desafios na cimentação
Por muitos anos, temos testemunhado uma discussão em curso sobre “qual é a melhor abordagem para cimentar laminados cerâmicos?”. Devo confessar que não acredito que haja um protocolo superior, mas sim diversas abordagens, cada uma com suas vantagens e desvantagens.
A Importância da Viscosidade
A baixa viscosidade dos cimentos resinosos e compostos fluidos (“flow”) é fundamental para alcançar uma baixa espessura de película e facilitar o assentamento da peça protética. Para isto, os fabricantes utilizam diferentes estratégias na formulação desses materiais, como a redução da quantidade de partículas de carga de partículas ou a alteração do tipo e proporção de monômeros. No entanto, a redução drástica da carga inorgânica nos cimentos resinosos pode elevar o grau de contração deste material, comprometer a resistência geral da restauração cimentada e acelerar o processo de degradação ao longo do tempo.
O Uso de Compósitos de Restauração
Nesse sentido, os compósitos de restauração convencionais têm sido considerados úteis no processo de cimentação. Há alguns anos, foi introduzida a técnica de pré-aquecimento de resinas compostas de consistência regular. Nesta técnica, a resina composta é mantida aquecida por um determinado nível de temperatura suficientemente necessário para que o material torne-se fluído e permita o assentamento correto das peças protéticas.
A Controvérsia dos Compósitos Pré-aquecidos
Alguns pesquisadores estabeleceram uma correlação entre o uso desses materiais e melhorias nas propriedades físico-químicas devido a uma maior proporção de partículas de carga em comparação com os cimentos resinosos. No entanto, é importante notar que análises recentes têm apresentado resultados divergentes em relação a essa afirmação.
Estresse Durante o Processo de Fotoativação
Diante dos relatos de colegas sobre a fratura de laminados cerâmicos durante o processo de fotoativação do agente de cimentação, sempre tive curiosidade sobre o desenvolvimento de tensões de contração durante esse procedimento e se haveria diferenças na quantidade de tensão gerada com base no tipo de agente cimentante utilizado. Discutindo esse tópico com colegas e estudantes de pós-graduação, elaboramos um projeto de pesquisa que culminou com a recente publicação do artigo intitulado “Luting laminate veneers: do resin-composites produce less polymerization stress than resin cements?” no respeitável periódico Dental Materials.
Resultados da Pesquisa
Este artigo é resultado do trabalho de doutorado da aluna Walleska Liberato, orientada pela professora Dra. Larissa Cavalcante (UFF) e com orientação externa dos professores David Watts e Nick Silikas, da Universidade de Manchester. Resumidamente, o estudo envolveu a análise de sete resinas compostas convencionais (Admira Fusion, Voco; Gradia, GC; Grandioso, Voco; Palfique, Tokuyama; Sirius Z, DFL; Viscalor, Voco e Z100, 3M), avaliadas em temperatura ambiente e após pré-aquecimento a 69°C.
Conclusões do Estudo
Também incluímos a análise de duas resinas compostas do tipo “flow” (Sigma Flow, DFL e Grandioso Flow, Voco), três cimentos fotoativados do tipo “veneer” (AllCem Veneer, FGM; Variolink Esthetic, Ivoclar e RelyX Veneer, 3M), além de um cimento resinoso dual como controle (SpeedCEM, Ivoclar). Os materiais foram submetidos a testes de capacidade de polimerização, propriedades mecânicas resultantes, grau de contração e, principalmente, o nível de estresse gerado. Ao final do estudo, concluímos que as resinas convencionais podem, de fato, produzir menos tensão de polimerização do que os cimentos resinosos durante o processo de cimentação de laminados cerâmicos. Entretanto, também foi verificado que o nível de estresse foi elevado para aqueles casos em que os materiais foram fotoativados ainda aquecidos. Ou seja, é indicado que o cirurgião dentista realize o assentamento da peça e faça a remoção cuidadosa dos excessos, sem necessidade de se apressar.
Tomando Decisões Informadas
Apesar da importância e ineditismo dos achados deste trabalho, é imprescindível destacar que um dentista deve evitar tomar decisões operatórias baseadas exclusivamente em um único artigo científico proveniente de uma pesquisa laboratorial. A abordagem clínica deve ser um processo holístico que considera não apenas evidências científicas, mas também fatores como o nível de treinamento do profissional e disponibilidade de materiais e recursos. A integração de conhecimento científico com experiência prática e contexto clínico é fundamental para garantir o melhor atendimento odontológico e a tomada de decisões informadas e eficazes.
Referência
Liberato WF, Silikas N, Watts DC, Cavalcante LM, Schneider LF. Luting laminate veneers: Do resin-composites produce less polymerization stress than resin cements? *Dental Materials*, 2023; in press. [Link para o artigo]
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