O Prêmio Nobel tem uma história curiosa. Idealizado em 1895 pelo químico e inventor sueco Alfred Nobel, surgiu do desejo de deixar um legado positivo para a humanidade. Nobel, conhecido pela invenção da dinamite, que foi amplamente utilizada em conflitos armados, decidiu criar uma premiação para reconhecer aqueles que realizassem descobertas de grande impacto na sociedade, buscando equilibrar o impacto de sua invenção. Inicialmente concedido nas áreas de Física, Química, Medicina (ou Fisiologia), Literatura e Paz, o prêmio se tornou símbolo de progresso científico e avanço cultural.

Em 2024, pela primeira vez, duas premiações do Prêmio Nobel estão diretamente ligadas à área de Inteligência Artificial: Física e Química. Isso é um marco significativo, pois destaca o impacto crescente dessa tecnologia no campo das ciências naturais e sociais. Neste artigo, vamos explorar o significado dessa nomeação e a relevância do reconhecimento dos cientistas agraciados.   

 

O Prêmio Nobel de Física de 2024 foi concedido a John Hopfield e Geoffrey Hinton pelas «descobertas e invenções fundamentais que possibilitaram o aprendizado de máquina com redes neurais artificiais», segundo a Fundação Nobel. Essas técnicas formam a base do que conhecemos hoje como Inteligência Artificial.

 

Você deve estar se perguntando: qual é a relação da Física com tudo isso? Hopfield e Hinton aplicaram conceitos da Física estatística, como «energia mínima» e probabilidade, para desenvolver formas mais eficientes de armazenar informação e construir algoritmos matemáticos que aprendem padrões por meio da ingestão de grandes quantidades de dados. Esse processo se tornou essencial para o funcionamento das IAs modernas.

Redes neurais artificiais se inspiram no aprendizado humano, conectando «neurônios» artificiais para processar informações. Assim como o cérebro, esses algoritmos aprendem ao serem expostos a exemplos, justificando a associação dessa área ao termo «Inteligência Artificial».         

Se, por um lado, o Prêmio Nobel de Física agraciou pesquisadores ligados ao desenvolvimento dos algoritmos fundamentais da IA, o Prêmio Nobel de Química de 2024 reconheceu cientistas que utilizaram essas ferramentas para alcançar grandes feitos científicos. David Baker, Demis Hassabis e John Jumper foram premiados por seus trabalhos na previsão de estruturas tridimensionais de proteínas a partir de sequências de aminoácidos, além da criação de proteínas inteiramente novas.

 

O modelo de Inteligência Artificial desenvolvido por Demis Hassabis e John Jumper foi responsável por resolver problemas da biologia molecular que estavam sem solução há 50 anos. Esse feito foi possível em grande parte devido ao trabalho pioneiro em redes neurais desenvolvido por Hopfield e Hinton. Assim, os dois prêmios se conectam: os avanços teóricos permitiram aplicações práticas revolucionárias, demonstrando o enorme potencial da Inteligência Artificial na ciência.

 

O Prêmio Nobel de 2024 é um reconhecimento do poder inovador da IA. De uma área relativamente ignorada nas premiações anteriores, ela agora emerge com protagonismo, deixando clara sua relevância tanto para a sociedade quanto para o avanço científico. 

 

Embora seja difícil prever quem serão os próximos laureados, podemos afirmar com segurança que a Inteligência Artificial estará mais presente daqui para frente. Trata-se de uma tecnologia extremamente ampla, com diversas aplicações promissoras. Subáreas como Visão Computacional e IA Generativa, que têm mostrado aplicações impressionantes no mundo real, ainda estão em estágios iniciais. O próprio ChatGPT, que popularizou a IA Generativa, tem menos de três anos de existência.

 

Ainda há muito a ser explorado nesta tecnologia, e é praticamente certo que veremos grandes impactos ocasionados por ela na sociedade. O Prêmio Nobel de 2024 é apenas o começo de um reconhecimento mais amplo do papel da Inteligência Artificial como ferramenta essencial no avanço do conhecimento humano.