Foi noticiada em vários veículos a execução de um procedimento odontológico de maneira completamente automatizada, sem intervenção de humanos, por um robô com assistência de Inteligência Artificial (IA), realizado por uma empresa americana. No vídeo, divulgado pela própria empresa, é possível conferir o preparo de um dente para recebimento de uma prótese sendo realizado de forma mecanizada, em movimentos circulares e contínuos na boca de um paciente. 

 

Será esta a prova definitiva de que a IA substituirá os dentistas em um futuro próximo? Neste post vamos entender melhor como essa façanha foi possível e quais foram as tecnologias utilizadas pela empresa Perceptive, que promete estar desenvolvendo um “sistema robótico com o objetivo de realizar procedimentos restauradores (…) mais rapidamente e com maior precisão do que qualquer ser humano”. 

 

 

Termo que virou uma verdadeira “buzzword” nos últimos tempos, IA, pode englobar uma série de tecnologias não necessariamente novas ou revolucionárias. Talvez por influência de livros, filmes e séries, a palavra é frequentemente associada pelo público geral a robôs humanoides com potencial de substituir humanos em tarefas do mundo real.

 

Quem pensa, porém, que, nesse caso, um robô autônomo foi capaz de examinar o paciente, tomar decisões e identificar como preparar o dente pode estar levemente equivocado. Na verdade, o primeiro passo para que o procedimento tenha sido realizado com sucesso foi o uso de um scanner intraoral 3D com tecnologia própria da empresa, manipulado por um humano. É de se admirar, no entanto, que a empresa alegue utilizar uma tecnologia bastante inovadora na Odontologia, chamada Optical coherence tomography (OCT), que não utiliza radiação ionizante (raios-x) e pode capturar imagens de estruturas abaixo da linha da gengiva e sob a superfície do dente. Ainda segundo a empresa, esse dispositivo tem a capacidade de detectar cáries com 90% de acurácia, em comparação com 45% de acurácia de radiografias tradicionais.

  

Após a obtenção das imagens, um programa baseado em IA faz a segmentação das imagens e a discriminação das áreas de interesse. Dessa forma, o sistema pode reconstruir o volume completo de determinadas estruturas da boca. A empresa afirma que as imagens do seu dispositivo podem, inclusive, ser combinadas com imagens de tomografia computadorizada (que utilizam radiação ionizante) para localização da polpa dentária em relação a possíveis cáries. 

 

Depois do escaneamento e da segmentação realizados, o sistema robótico é programado previamente para fazer o desgaste no dente de acordo com a orientação humana. Como a simulação de desgaste é feita previamente, a peça protética também poderá ser planejada nessa fase.

 

 

Imagens 3D segmentadas, onde se pode discriminar estruturas como cáries e polpas dentárias.

 

 

 

Segundo a empresa, um fluxo de trabalho que demandaria a presença do paciente por cerca de duas horas na cadeira odontológica foi reduzido para cerca de 15 minutos com a ajuda do sistema. É importante salientar que essas informações não são provenientes de estudos científicos registrados na literatura. Inclusive, embora americana, a empresa não pôde realizar os procedimentos no território dos Estados Unidos devido às restrições dos órgãos regulatórios do país. 

 

  Com estas características, este seria o primeiro procedimento odontológico de natureza restauradora realizado de forma automatizada em um paciente humano acordado. O sistema é capaz de fazer cortes com precisão de 100 mícrons, sendo bem mais preciso que os dispositivos aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA) para implantodontia, por exemplo, que conseguem alcançar até 1100 mícrons.  

 

Cena do vídeo divulgado pela empresa Perceptive, mostrando a realização do procedimento.