cânulas x agulha
Por Gabriella Castro
A maioria dos procedimentos da harmonização orofacial são injetáveis e variam sua aplicação de acordo com o instrumento utilizado, podendo ser com cânula ou agulha. As agulhas tradicionais apresentam pontas cortantes e quando introduzidas na pele do paciente podem danificar a parede de pequenos vasos sanguíneos, sendo relacionadas ao aumento da dor, hematomas e risco de injeção intravascular. As cânulas são semelhantes às agulhas, porém, apresentam ponta romba, abertura lateral próxima à ponta e maior flexibilidade. Sendo assim, seu deslize sob a derme parece levar a um menor trauma aos tecidos e possui menor chance de injeção intravascular.
Fonte: (ANTONIO; ANTONIO; COURA; DAVID, et al., 2015).
Injeções com agulhas requerem várias punções para a aplicação do material, o que provoca a liberação de histamina e aumenta o risco de edema, eritema e hematomas. Nos lábios, por exemplo, quando o superior é feito com agulha para realizar um contorno mais delicado e o inferior é feito com cânula, percebe-se que o superior fica com mais edema e tem maior chance de hematomas.
No estudo de Pavicic et al. (2019), mediram a força necessária para entrar em um vaso com a cânula e com a agulha, e foram comparadas cânulas e agulhas de calibres 22G, 25G, 27G. Foi descrito que com a agulha é necessário fazer uma força muito menor para penetração no lúmen de um vaso do que com a cânula. No entanto, cânulas mais finas acabam se comportando como agulhas em relação à capacidade de perfurar vasos sanguíneos. Ou seja, cânulas de gauges maiores tem o potencial de perfuração igual ao de uma agulha. Nesse sentido, uma cânula de calibre 22 é mais segura que uma cânula de calibre 25 e uma cânula de calibre 25 é mais segura que uma cânula de calibre 27. Por isso, a maioria dos injetores preconiza o uso das cânulas de calibre 22G.
Contudo, mesmo com a dificuldade de rompimento da artéria com a cânula 22G, Tansatit, Apinuntrum e Phetudom (2016) concluíram que durante a injeção cega não se pode diferenciar a sensação da ponta da cânula entre a região de um septo fibroso ou de uma parede arterial. Segundo eles, o uso da cânula previne acidentes vasculares em comparação à agulha, mas quando se usa uma força exagerada, onde se quer romper septos com a cânula em áreas onde se encontra um percurso arterial tortuoso, também existe a chance, mesmo com cânulas calibrosas, de perfurar o lúmen do vaso.
Segundo Yeah et al. (2017), estudos recentes mostram que o uso da agulha resulta em deposição menos precisa de produto, se precisão é definida como a permanência do material preenchedor no plano de injeção intencional. Análises de raios-X e fluoroscopia revelarem que preenchedores injetados com a agulha podem fazer o caminho retrógrado e criar um canal de distribuição do produto para todos os planos, aumentando o risco potencial de deposição intra-arterial.
Por outro lado, Rosengaus e Nikolis (2020) afirmam que cânula não é necessariamente mais precisa do que a agulha. Segundo eles, o plano supraperiosteal não é garantido, uma vez que é difícil e improvável manobrar a cânula até o nível do periósteo usando um ponto distal de entrada. Em espécimes de cadáveres, ao injetar ácido hialurônico na pirâmide óssea nasal com uma cânula, este foi encontrado repetidamente na camada de gordura superficial. No entanto, tal estudo foi conduzido focando na área nasal, enquanto o estudo anterior não abordava tal região. Sendo assim, a precisão da cânula e da agulha podem se comportar de forma diferente de acordo com certas regiões da face.
A aspiração pré-injeção pode ser utilizada, porém, até o momento não é universalmente obrigatória em todas as áreas faciais devido ao potencial de resultados falsos negativos. Uma aspiração negativa (agulha no vaso, mas sem aspiração sanguínea) pode dar uma falsa sensação de segurança ao injetor e fazer com que ele prossiga com uma injeção arriscada. Isso pode permitir e encorajar uma injeção intravascular. Já uma aspiração positiva (com aspiração sanguínea) só é relevante no instante em que a agulha estiver naquela posição. Ademais, a sensibilidade de aspiração depende de algumas variáveis como reologia do preenchedor, tamanho e diâmetro da agulha ou da cânula, pressão e tempo de aspiração.
Aspiração positiva durante preenchimento labial. Fonte: https://www.facebook.com/share/pTL6wjT3RPcvTSDx/?mibextid=WC7FNe
No caso do cantor Naldo, foi feita uma rinomodelação que levou a uma necrose. Foi divulgado um vídeo do procedimento nas redes sociais, no qual o profissional o realiza com agulha e faz uma rápida aspiração.
Dessa forma, apesar da agulha parecer ser mais traumática para os tecidos em comparação com a cânula, ainda assim podemos observar que algumas cânulas podem se comportar como agulhas. Além disso ambas apresentam suas vantagens e desvantagens, dependendo também da região facial em que é utilizada. As recomendações de segurança incluem injeção lenta e com pressão mínima, injetar em pequenos incrementos (aproximadamente 0,1ml), utilizar cânulas de maior calibre, ter conhecimento sobre anatomia, vasos sanguíneos, suas variações e entender o plano de profundidade adequado em cada local.
Existem diversas técnicas de aplicação dos preenchedores, que variam de acordo com a região aplicada. Em regiões anatômicas de risco, deve-se preconizar o uso das cânulas para maior segurança. Dessa forma, a escolha pela cânula ou pela agulha dependem da anatomia facial, e também da habilidade, segurança e sensatez do profissional.
Referências
Castro de Sousa, G., Borges de Lima, T., & Chaves de Almeida, V. (2022). CÂNULA X AGULHA: SEGURANÇA E PRECISÃO NA INJEÇÃO DE PREENCHEDORES DÉRMICOS. Aesthetic Orofacial Science, 3(2), 18–24. https://doi.org/10.51670/aos.v3i2.104
ANTONIO, C. R.; ANTONIO, J. R.; COURA, M. G. G. et al. Microcânulas em dermatologia: especificações. Surgical & Cosmetic Dermatology, Rio de Janeiro, v. 7, n. 3, p. 241-244, 2015.
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